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Neste início de 2025 e numa altura em que os efeitos das alterações do clima vão causando estragos pelo mundo fora, noticias surpreendentes e inquietantes chegam-nos dos Estados Unidos da América.
Enquanto grande parte do mundo está em estado de “emergência climática”, muito devido aos efeitos da queima de combustíveis fósseis que, segundo a comunidade científica tem alterado a composição da atmosfera e feito subir a temperatura média do planeta, nos EUA discute-se a “emergência energética.”
Com efeito, o recém-eleito presidente Donald Trump, um negacionista das alterações climáticas, promete retirar, e pela segunda vez, os EUA do Acordo Climático de Paris – um compromisso internacional que procura evitar que as temperaturas subam mais de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Ignorando por completo todos os atuais esforços internacionais para combater os efeitos das alterações climáticas, e que passam pelo fim da exploração de gás e petróleo, as maiores fontes de emissões de gases com efeito de estufa, e pela descarbonização, Donald Trump vem incitar ao reforço da exploração petrolífera (o que muito agradou à industria dos combustíveis fósseis…), algo bem expresso no seu “Drill, baby drill” e que sintetiza bem toda a sua visão sobre a política energética e ambiental que pretende implementar.
Medidas que a avançarem irão aumentar significativamente o dióxido de carbono na atmosfera e continuar a contribuir para um cenário onde se sentirá com mais intensidade e regularidade os impactos de fenómenos climáticos extremos, como incêndios, tempestades e cheias, deslocação de populações, etc.…
De acordo com dados da ONU dos mais de 120 milhões de deslocados forçados no mundo, três quartos vivem em países e locais fortemente impactados por conflitos e pela alteração do clima.
“Para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade do mundo, as mudanças climáticas são uma realidade dura que afeta profundamente suas vidas” (ONU,2024)
Recorde-se que os EUA são o maior produtor de petróleo no mundo e o segundo maior emissor de gases com efeito de estufa – carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) -, gases que, segundo os cientistas, são os grandes responsáveis pelo aquecimento global, pois ao absorverem o calor do sol que irradia da superfície da Terra, prendem-no na atmosfera e impedem-no de regressar ao espaço, alterando assim o clima do nosso planeta.
Num mundo cada vez mais consciente da necessidade de sustentabilidade, a premência de energia “verde” surge como uma alternativa positiva rumo a um futuro mais ecológico, sendo por isso fundamental investir em energias renováveis e em formas de energia mais limpas, nomeadamente a energia eólica, a energia solar, a energia hidroelétrica, a energia oceânica, a energia geotérmica e a biomassa, alternativas mais limpas aos combustíveis fósseis.
Realce-se que Trump sempre se mostrou cético em relação ao setor eólico, tanto a nível ambiental como económico, pois, é seu entendimento que “afetam as baleias, matam os pássaros, deformam os bairros e arruínam as belas paisagens”, algo que o leva a restringir, a partir de agora, o desenvolvimento de projetos eólicos tanto onshore como offshore.
“É a energia mais cara que existe. É muitas vezes mais cara do que o gás natural limpo.” (Trump,2025).
No mesmo sentido e por historicamente ser contra os veículos elétricos, Trump pretende reverter o objetivo do seu antecessor relativamente à mobilidade elétrica, indo assim contra as tendências globais de descarbonização.
Com esse propósito considera, eliminar incentivos e “subsídios injustos e outras distorções de mercado” impostas pelo governo anterior que favoreciam os carros elétricos e baterias relativamente a outras tecnologias, medidas que, de acordo com Trump, não defendem a indústria automóvel americana.
“Libertar a energia americana” e “Restaurar a prosperidade americana” faz agora parte do seu plano.
Ora, está comprovado cientificamente que a nossa saúde e o nosso bem-estar dependem do estado do Ambiente. Tanto os seres humanos como a natureza e os animais sofrem as consequências de um planeta pouco saudável.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) – uma agência da ONU especializada em saúde e que está mandatada para coordenar a resposta do mundo às ameaças globais à saúde e a quem Trump pretende reduzir o apoio – estimou em 2022 que mais de 13 milhões de mortes por ano em todo o mundo se devem a causas ambientais evitáveis, razão pela qual considera a crise climática também uma crise sanitária.
São todas estas evidências que a retórica de Donald Trump e em completo contraciclo com o atual compromisso “verde”, descarta quando incentiva o reforço do investimento na exploração dos combustíveis fósseis e na reversão das iniciativas de energia limpa e renovável, indo contra as tendências globais de descarbonização.
Numa altura em que o Brasil prepara a próxima cimeira do clima (COP30), na cidade de Belém, a segunda cidade mais populosa da região amazónica, evento que desde logo parte com a responsabilidade de aumentar o montante do financiamento das medidas de mitigação das mudanças ambientais, a possível ausência dos EUA é uma situação que preocupa e ensombra as futuras negociações.
Desde 1992, ano em que se realizou a Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, que a comunidade internacional reconhece a necessidade de ação coletiva para proteger as Pessoas e o Ambiente e limitar as emissões de gases com efeito de estufa.
Depois de um primeiro passo ter sido dado em 1997, com o Protocolo de Quioto, que veio introduzir a primeira meta juridicamente vinculativa em matéria de redução das emissões dos países desenvolvidos, seguiu-se o Acordo de Paris, em 2015, um compromisso internacional assinado por mais de 190 países, com o objetivo de manter as temperaturas mundiais do planeta dentro de limites seguros, pelo que, respeitar e cumprir o assumido em Paris, continua a ser “a melhor esperança para toda a humanidade“.
Enquanto o mundo assiste à crescente deterioração do sistema climático com tragédias ambientais e sofrimento das populações, os EUA, um dos grandes poluidores do planeta, por isso grande responsável pelo estado do clima, ao não pretender diminuir as suas emissões de gases com efeito de estufa, algo que nesta altura seria fundamental para a meta do 1,5ºC, opta por, em prol da sua competitividade económica, afastar-se dos compromissos climáticos acordados que têm em vista a sobrevivência da vida e um planeta sustentável.
“A ciência sobre as alterações climáticas não perdoa, cada ano de atraso implica mais custos e mudanças irreversíveis e são as pessoas comuns que pagam o preço mais alto” (Rachel Cleetus, Economista principal do programa de clima e energia da Union of Concerned Scientists).
Não tenhamos dúvidas, a luta climática é o grande desafio do século XXI, não é hora de abrandar.
Carlos de Jesus
Licenciado em Sociologia.
Mestre e Doutorando em Ecologia Humana
Email: carlos.jesus@campus.fcsh.unl.pt
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