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Começa hoje o relato de uma viagem à Arábia Saudita, realizada por António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.
Dia 1 – 22 dezembro 2023
Início da aventura no reino saudita, berço do islamismo. O atraso substancial de seis horas do voo Istambul-Jeddah, obrigou-nos a adaptar o programa inicialmente previsto, que tentaremos recuperar. Neste voo ficámos com a sensação de sermos diferentes. Éramos praticamente os únicos em que o homem não estava enrolado em panos brancos, e a mulher vestida de negro da cabeça aos pés. O avião estava cheio de peregrinos para Meca. Até nos deram o kit peregrino no voo: uma mochila, uns pezinhos para calçar e um contador eletrónico para colocar no dedo, que só no último dia no país percebemos para que servia.
As formalidades de entrada foram pouco demoradas, uma vez que tínhamos feito em Portugal o E-Visa. Levantámos a viatura que nos acompanhará nos próximos dias. Marcado um Toyota Yaris, entregue um MG, estofos em pele, bancos elétricos, automático, uma bagageira que dá para 4 malas e nós com duas “mochilitas”. Isto é povo que nos sabe receber! Quando saímos do parque deparámo-nos com algo que não esperávamos. Os sinais de limites de velocidade estão escritos em árabe! Por sorte, as matrículas são “bilingues” e assim rapidamente aprendemos os números numa nova língua.
No hotel onde supostamente iríamos dormir a primeira noite, e única reservada, estávamos às 07H30 da manhã a fazer o check-in ou a dar a “cantada” para não nos debitarem o quarto. A rececionista muito gentilmente percebeu o atraso do voo e cancelou a reserva. “No charge! Thank you very much!”, e seguimos que estamos atrasados.
Abastecimento da viatura, com um custo de 20 €. No país paga-se mais por água que por gasolina. Fazendo o câmbio, a gasolina está a 50 cêntimos e o diesel a 20 cêntimos. O GPL é quase dado. Nova paragem para comprar água, e primeira interação com algo de Portugal: Ronaldo, “sssiiiiiiiiiiii”.
Primeira etapa prevista de quase 700 km, até ao deserto de Al Ula. Mas, com uma direta em cima, 30 graus de temperatura, retas a perder de vista com dezenas de quilómetros e que tornam a condução muito monótona, levou a um “pit stop” de emergência em Yanbu, 330 km depois, para descanso da “tripulação”. No caminho ainda apanhámos uma mini tempestade de areia, e uma chuva diluviana, que em poucos minutos inundou as planícies de areia e as estradas, de uma forma absolutamente espantosa. Tínhamos previsto no percurso inicial uma paragem nesta cidade à beira-mar, apenas para visitar o centro histórico, que tem vindo a ser recuperado.
Durante o dia a cidade foi dececionante e pouco interessante. Tirando o “chicken Biryani” do almoço, a cidade não teve mais nada para nos oferecer. Yanbu tem uma história rica, sendo ponto de descanso de antigas rotas comerciais, entre o mar Mediterrâneo e o Iémen, e é a capital saudita do mergulho. Algumas praias perto, mas desertas, sendo que são zonas da cidade que estão a ser totalmente remodeladas, tal como o país. A quantidade de obras que se vão vendo pelo caminho roça a loucura.
Lançado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman em 2016, o projeto “Saudi Vision 2030”, assenta em 3 pilares: Sociedade Vibrante, Economia Dinâmica e Nação Ambiciosa. Este projeto, bastante audacioso e futurista, leva-nos a um país que se encontra em profunda transformação e a abrir-se ao mundo. Com a emissão de vistos turísticos desde 2019, tornou-se muito rapidamente num polo de atração do desporto mundial. Contratação dos grandes craques futebolistas europeus, Fórmula 1, MotoGP, Dakar, Mundial de Futebol em 2034, entre muitos outros. Pretendem diversificar a sua economia e reduzir drasticamente a dependência das receitas do petróleo. As suas tradições vão perdendo rigidez, aproximando-se aos poucos do Ocidente. Vê-se isso nos direitos das mulheres. Hoje em dia, já não precisam de andar atrás dos maridos quando andam na rua, podem conduzir, podem trabalhar fora de casa e o “niqab”, véu que cobre o rosto, deixou de ser obrigatório.
Voltando à nossa tarde em Yanbu, decisão de recuperar energias no hotel com uma retemperadora sesta, que eu creio não fazer desde os 2 anos. Surpreendentemente, a noite é totalmente diferente do dia, uma vez que depois do pôr do sol, a zona histórica ganhou vida. Os restaurantes e as lojas do “souk” abriram, as esplanadas foram montadas, as famílias fazem piqueniques nos relvados. Até os gatos apareceram às dezenas, sendo que dois deles tiveram a sorte de terminarem o nosso jantar. Os restaurantes locais são fantásticos e conseguimos fazer refeições para os dois por 30 SAR, menos de 4 euros por cabeça.
A maioria das mulheres anda de preto e com a cara tapada, apesar de já não ser obrigatório, e as das lojas interagem bastante connosco, e muitas na rua até nos cumprimentam. Para dizer a verdade creio que éramos os únicos estrangeiros na cidade, ou pelo menos na zona histórica. De súbito ecoam pela cidade os sons dos chamamentos para a oração, nas várias mesquitas. Mesmo em frente da esplanada onde jantávamos havia uma mesquita. Muito interessante a quantidade de crianças que foram sozinhas orar. Uma chegou de patins em linha, e outra, mais pequena ainda, com a sua mota elétrica, que cuidadosamente arrumou num cantinho para não atrapalhar.
Do que lemos sobre a Arábia Saudita já detectamos duas inverdades: os sauditas não conduzem como loucos, e as redes sociais não estão bloqueadas.
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