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Segundo dia do relato da viagem à Arábia Saudita, realizada por António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.
Dia 2 – 23 dezembro 2023
Início de dia bem cedo, porque tínhamos 450 km para fazer, até Al Ula. Pequeno-almoço no quarto, única forma de ser servido, certamente pelas questões religiosas ainda latentes nos restaurantes, com a “proteção” das famílias em espaços reservados, para que assim as senhoras possam tomar a sua refeição de uma forma tranquila, sem a cara tapada com o Niqab.
O dia de hoje foi a passagem das vastas planícies junto ao mar, para as bonitas montanhas, oásis e desertos de altitude. Dia de condução muito mais agradável, em estrada de montanha, sempre com piso excelente. A terra das pick-ups. Incrível a quantidade de veículos deste género que se veem na estrada. De quando em vez, jipes enormes abanam a nossa viatura à sua passagem, um veículo também popular neste país, pouco recomendável em Portugal, ao preço a que estão os combustíveis. Nas estradas ainda não é muito consistente o conceito de rotunda. Em certos cruzamentos, se queremos ir para a esquerda, temos de ir primeiro para a direita, fazer 500 m, e inverter então a marcha. Mandem alguém de Viseu para cá por favor, que resolve isto numa fogachada.
Ainda tempo para dar boleia a um saudi, muito contente com a sua compra de um novo cobertor. Do diálogo que se instalou, só conseguimos entender que ia para Medina. Lá nos fizemos explicar que íamos para outra direção e num cruzamento logo a seguir, ele pediu para sair. “Shukran! Shukran! Shukran!”.
Chegada a Al Ula. Historicamente está na Rota do Incenso, que se estendia do sul da Arábia até ao mediterrâneo. Al Ula foi também a capital de um antigo e poderoso reino árabe, os lianitas. É aqui também que podemos encontrar o primeiro Património Mundial da Unesco no reino saudita, Hegra, cidade construída pelos nabateus.
Visita ao Oásis da cidade, onde ainda se podem ver bastantes ruínas da antiga cidade que se “escondia” debaixo do bonito palmeiral. Avisos para zonas de ninhos de cobras. De seguida visitámos a “Old Town”, que está a ser completamente reconstruída, dentro do programa “Saudi Vision 2030”. Uma cidade grande, dentro de muralhas e construída de tijolos de lama e pedra, e que está a ser totalmente reabilitada com todo o pormenor e detalhe. Uma zona comercial já está terminada, e a cidade, labiríntica, apenas visitável de momento numa pequena parte, e que liga a parte baixa à parte alta da mesma.
Passagem pelo Elefant Rock, um arenito vermelho enorme, com uns incríveis 52 metros de altura e com a forma de um elefante. Mesmo ao lado, uma zona de lazer com bares e assentos escavados na areia, para proteção do vento, e onde cada “box” tem uma lareira privada.
No topo da montanha mais alta da zona, encontra-se o miradouro da cidade, com uma vista interessante para Al-Ula e para as montanhas circundantes, que ao pôr do sol ganham cores de um amarelo intenso. Também aqui uma zona de lazer está aberta, semelhante à de Elefant Rock.
Depois destas visitas, teve início a odisseia do dia, reserva de quarto, com a qual não contávamos. Esta viagem foi organizada para alojamento “free styling”, sem nenhuma marcação para além da primeira noite. Primeira tentativa, hotel esgotado. A segunda tentativa meteu ajudas de um motorista de Uber, do passageiro, mais uns transeuntes, mas infelizmente também sem resultados para nós, uma vez que não se descobriu ninguém para dar informações num dos alojamentos selecionados. Terceira tentativa, ninguém na receção e apenas um número de telefone. Ligou-se. Do outro lado a pessoa não falava inglês. Por sorte entrou um hóspede que entendeu a nossa questão e fez o favor de a transmitir em árabe. “Habemus” quarto! Caríssimo por sinal. Foi sem sombra de dúvida o alojamento mais caro, e que nada tem a ver com o resto do país. 100 € por noite, que fora de Al Ula deverá custar 20 €, ou menos. A password do Wi-Fi estava escrita a caneta na parede perto do elevador. Al Ula deverá ser neste momento o local mais procurado pelos turistas, daí os preços apresentados. O início já próximo do Dakar, que este ano tem partida daqui, deve ter certamente contribuído para esta brutal inflação de preços.
Resolvida a questão do alojamento, saída rápida para a Old Town, que hoje é dia de festa na cidade, com o Festival Tantora, dedicado à cultura local. Em vários pontos, saudis em trajes tradicionais, oferecem-nos café árabe com cardamomo, e tâmaras. A partir de determinado ponto, pedem-nos bilhete para podermos passar a outro recinto, muito mais animado. 95 SAR cada um, 25 €, o que dá 6 jantares para duas pessoas. Terá de haver outra forma, ou não fôssemos “tugas”. Não se entra pela porta principal, tenta-se as traseiras. E não é que funcionou? Na outra extremidade do recinto, onde já se aglomeravam bastantes pessoas, e pelo que entendemos mais tarde, era o início da performance teatral, fomos entrando de “mansinho”, bebemos um café, comemos mais tâmaras, enturmámos com os dançarinos saudi e convidaram-nos a entrar. Acompanhámos o desfile na primeira fila, na comitiva de honra! Para final, ainda comemos um pão tradicional, mais um cafezinho com tâmaras, tudo delicioso. No regresso para o carro, apanhámos o shuttle gratuito, em carrinhos elétricos
de golfe, e no banco à nossa frente, um adolescente fartou-se de rir, porque eu comecei a imitar o barulho de um Fórmula 1. Quando lhe dissemos que nós éramos de Portugal, o miúdo nem queria acreditar. Pessoal do país do Ronaldo! UAU! Até nos mostrou um filme do sobrinho ao pé do Cristiano, nome pelo qual é mais conhecido, a sair de um estádio de futebol. Já tem uma história para contar aos amigos. Amanhã, vamos visitar os nabateus.
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