Prémio Municipal Beatriz Ângelo | Odete Santos e Catarina Furtado foram as mulheres distinguidas na edição deste ano

A entrega dos galardões da 15ª edição do Prémio Municipal Beatriz Ângelo aconteceu a 08 de março, Dia Internacional da Mulher, na Sala Ruy de Carvalho do Centro Cultural Malaposta e contou com intervenções do Presidente da Assembleia Municipal de Odivelas, Miguel Cabrita e da Vereadora da Vereadora Susana Santos, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Odivelas, Hugo Martins.

As mulheres homenageadas foram a militante comunista Odete Santos (a título póstumo) e a apresentadora, escritora e atriz Catarina Furtado «duas ativistas dos direitos das mulheres e da igualdade de género».

Pela primeira vez o Prémio Beatriz Ângelo distinguiu também «empresas cujas práticas no domínio da igualdade entre homens e mulheres na vida profissional as tornam meritórias deste reconhecimento». As empresas escolhidas pelo júri foram a Arquiconsult e J. Oliveira & Simões. A cerimónia começou com um apontamento musical com Sofia Grácio, no piano e voz, Inês Martins, na voz, e Beatriz Souza, na dança.

«Os estereótipos de género, as desigualdades entre homens e mulheres e as práticas de discriminação continuam a fazer parte da nossa vida coletiva»

O Presidente da Assembleia Municipal de Odivelas, lembrou que o prémio está a ser entregue num ano em que se estão ainda a celebrar os 50 anos do “25 de Abril” e que entre as sua imensas conquistas está a igualdade entre homens e mulheres, o sufrágio universal e direto e o pleno direito à participação política, eleitoral, das mulheres em Portugal, que aconteceu pela primeira vez em 1975 nas eleições para a Assembleia Constituinte.

Lembrando o exemplo de Beatriz Ângelo, Miguel Cabrita sublinhou a necessidade de, nos dias de hoje, se perpetuar esse exemplo em tantas áreas da nossa vida coletiva «Na política, nos partidos, na vida empresarial, no mundo dos negócios, na direção de empresas, no mercado de trabalho, nas novas tecnologias, na saúde, e desde logo na saúde sexual e reprodutiva, no desporto, na família, no trabalho, nos salários, na responsabilidade e envolvimento no cuidado com filhos, no flagelo da violência –  doméstica, da violência sexual, do assédio sexual e moral que atingem, discriminam, desproporcionadamente as mulheres».

O orador considerou que «Os estereótipos de género, as desigualdades entre homens e mulheres e as práticas de discriminação continuam a fazer parte da nossa vida coletiva. Continuam a ser realidade e até defendidos ativamente por uma “ideologia de género” – que é na verdade a misoginia, o machismo – que ao arrepio da constituição, da lei, dos direitos consagrados, da cidadania, da igualdade, continuam a existir, a defender o seu terreno, e até a avançar em contraofensiva sobre direitos conquistados». Por isso, reforçou, «O combate à desigualdade e à discriminação continua a ser necessário, ainda mais necessário. Continua atual, em tantas e tantas áreas da nossa sociedade. De modo transversal. E em todos os meios sociais».

«Nem as mulheres nem os homens conseguem fazer tudo sozinhos. Mas juntos, em colaboração e cooperação, podemos deixar um legado de progresso económico, político e social às novas gerações»

A Vereadora Susana Santos iniciou a sua intervenção referindo às duas homenageadas desta edição do prémio. Sobre Odete Santos considerou-a «Um símbolo de combatividade e justiça. Uma mulher cuja voz firme e compromisso inabalável com os direitos humanos deixaram uma marca indelével na política portuguesa e na luta pela igualdade. Um exemplo de coragem, dedicação e compromisso com a justiça social e os direitos humanos». A atribuição do prémio é um reconhecimento da «Sua trajetória notável e o impacto da sua luta na construção de uma sociedade mais justa e igualitária». Catarina Furta é, para a oradora, «Um símbolo de compromisso e humanismo. Uma mulher que transforma a sua notoriedade em impacto real, inspirando gerações a acreditando num mundo mais justo, igualitário e solidário. Uma referência na comunicação, na cultura e, sobretudo, no ativismo social». A atribuição do prémio é um reconhecimento do «Seu contributo inestimável para a igualdade entre os seres humanos e a sua capacidade de tocar e transformar vidas».

Sobre as duas empresas distinguidas a Vereadora considerou que «Têm e demonstraram cumprir Planos de Igualdade de Género, promovendo a conciliação entre a vida profissional e familiar, o bem-estar das suas e dos seus trabalhadores, a captação e reconhecimento do talento feminino, a redução da desigualdade salarial e a paridade nos processos de tomada de decisão».

No Dia Internacional da Mulher normalmente, «O que se espera das intervenções é destacar o quanto as mulheres são fortes, o quanto as mulheres se superam todos os dias trabalhando e cuidando das suas famílias, o quanto as mulheres são guerreiras, como espantosamente perecem conseguir fazer várias coisas ao mesmo tempo», disse Susana Santos, afirmando que não era isso que iria fazer. «E não é porque ache que as mulheres em geral e as que estão nesta sala em particular não sejam isto e muito mais, é porque sei que é nesta ideia, precisamente nesta ideia, que reside o cerne da desigualdade nos dias de hoje.

Esta ideia, passada, repassada e muitas vezes exibida com orgulho de que as mulheres conseguem fazer tudo, sempre com elegância e com um sorriso no rosto é a maior armadilha que as mulheres enfrentam.

Não. As mulheres não conseguem fazer tudo e quando o fazem é à custa do seu potencial total e da sua saúde física, mental e emocional.

E não. As mulheres não têm de fazer tudo».

Enquadrando estas afirmações a Vereadora lembrou que «Portugal é um País em que, historicamente, a feminização do mercado de trabalho sempre foi muito forte em todo o século XX.

Primeiro, porque a pobreza era tão persistente que não era possível, para a maioria das famílias pobres, abdicar de um salário em casa e, depois, por causa da guerra colonial, que levava, matava e incapacitava os nossos homens jovens.

As Mulheres assumiram-se, deste muito cedo, como grande força laboral, acumulando com o trabalho não remunerado que tinham e têm em casa.

Esta estrutura social em que as mulheres assumem a quase exclusividade das tarefas de cuidado, com filhos, idosos e outras pessoas dependentes, foi sendo também, altamente funcional para o sucesso dos homens.

Liberta tempo e energia para os homens se dedicarem ao trabalho e ao desenvolvimento profissional, isso permite que trabalhem mais horas, aceitem promoções que exigem disponibilidade total e construam redes de contactos sem limitações familiares.

Este modelo, aliado a ideias muito masculinizadas de medição de sucesso, fortalece a ideia de que os homens são “naturalmente” mais aptos para o poder, reduz a concorrência feminina direta por cargos de decisão e mantém os salários masculinos mais altos.

Mas este modelo, aparentemente benéfico, traz muitos problemas também para os homens e para a sociedade como um todo.

A pressão masculina para o sucesso, a segregação de género nas categorias profissionais, o menor envolvimento emocional e relacional com a família e os filhos, em particular, e o desperdiçar de uma parte importante do talento e das competências das mulheres nas empresas, nas instituições e nos órgãos de decisão política.

Sucessivos estudos demonstram que a igualdade de género é promotora do crescimento económico, porque aumenta o PIB, porque torna as empresas mais competitivas e resilientes», disse.

Para Susana Santos «Nem as mulheres nem os homens conseguem fazer tudo sozinhos. É um facto» mas a Vereadora acredita que «Juntos, em colaboração e cooperação podemos deixar um legado de progresso económico, político e social às novas gerações

As Homenagens

Arquiconsult

Consultora de sistemas de informação assentes em tecnologias Microsoft, reconhecida a nível nacional e internacional, tem mais de 300 colaboradores, espalhados por 10 escritórios em Portugal, Espanha, Angola e Arábia Saudita. Com eles constrói, diariamente, um ambiente de trabalho saudável e motivador, o que já lhe valeu o Prémio Great Place to Work 2023/2024.

Com um plano para a igualdade de género e diversidade implementado, a empresa promove políticas de flexibilidade de horários de trabalho e teletrabalho, permitindo que os trabalhadores ajustem as suas agendas conforme as necessidades pessoais e familiares.

A Arquiconsult criou também ações específicas para garantir a equidade salarial, com um programa específico de mentoria para apoiar o desenvolvimento da liderança feminina dentro da organização, com o desenvolvimento de   ações de sensibilização e formação sobre o tema, assegurando que todas as práticas de recrutamento e gestão de talentos sejam inclusivas.

Foi premiada, por quatro vezes consecutivas, pela Câmara Municipal de Odivelas, no âmbito da iniciativa «Odivelas Reconhece», por ter contribuindo de forma positiva para a comunidade onde está inserida.

Recebeu também, a Medalha Municipal de Mérito, Grau Bronze, em 2023.

J. Oliveira & Simões

Empresa especializada no aconselhamento e venda de tintas no ramo da construção civil, proteção anticorrosiva e performance coatings. Está sedeada em Odivelas desde agosto de 2011 desde a abertura da loja no Vale Grande, Pontinha.

Conta, atualmente, com 10 colaboradores: 4 mulheres e 6 homens. Num setor de atividade maioritariamente masculino, é de destacar o rácio de 40% de mulheres no seu staff.

Liderada por uma gerente apresenta boas práticas no domínio da igualdade de género, designadamente na conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal.

A empresa promove, ainda, a igualdade salarial, e de oportunidades na progressão de carreira, respeitando os direitos parentais dos trabalhadores com horários flexíveis e ajustados sempre que necessário.

Apesar dos quase 30 anos de existência, é uma empresa com uma equipa jovem, dinâmica, proativa, divertida e organizada.

Em 2023 foi PME Líder e PME Excelência, galardões atribuídos pelo IAPMEI e recebeu, também, o Selo de Igualdade Salarial 2023, atribuído pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego.

Odete Santos

Nasceu no distrito da Guarda, a 26 de abril de 1941. Filha de professores primários, aos 10 anos mudou-se com a família para Setúbal.

Após concluir os estudos no liceu de Setúbal, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde se licenciou, tornando-se advogada em 1968.

Em 1974, tornou-se membro do Partido Comunista Português, que representou enquanto deputada à Assembleia da República durante 9 legislaturas, perfazendo um total de 27 anos nessa função.

No mesmo ano, integrou a 1.ª Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Setúbal como vereadora da Cultura, tarefa exercida até às eleições autárquicas de 1976. Foi membro da Assembleia Municipal de Setúbal entre 1979 e 2009, tendo presidido a este órgão autárquico entre 2001 e 2009.

Em 1980, integrou o Movimento Democrático de Mulheres, como membro do Conselho Nacional.

A 6 de Março de 1998 foi agraciada pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. No ano seguinte foi galardoada com a Medalha de Honra da Cidade de Setúbal.

Advogada, ativista, escritora, atriz e política, foi sempre uma figura incontornável no panorama político português.

Faleceu em dezembro de 2023, deixando na memória de todos o discurso da sua despedida do Comité Central do Partido Comunista Português, onde cita Almeida Garrett com a questão: “Quantos pobres são necessários para produzir um rico?”

Por indicação da família de Odete Santos recebeu o prémio Filipa Brás membro da Direção da Organização Regional de Lisboa do PCP.

Catarina Furtado

Nasceu em Lisboa, a 25 de agosto de 1972.

É um dos rostos mais conhecidos do panorama televisivo português, com presença assídua nos ecrãs há mais de 30 anos.

Atriz e apresentadora, é uma artista multifacetada, com experiências como jornalista, narradora, escritora ou letrista de canções.

Filha de um jornalista e uma professora, passou a infância em Campo de Ourique e no Bairro Alto. Frequentou ballet na Escola de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa ao mesmo tempo que frequentava o Liceu Passos Manuel.

É atualmente apresentadora do programa The Voice Portugal, transmitido na RTP1, canal televisivo onde trabalha desde 2002.

Exerce, desde 2000, a função de Embaixadora da Boa Vontade do Fundo de População das Nações Unidas, que lhe permite realizar um trabalho de proximidade em diferentes países nas áreas da Saúde, da Igualdade de Género ou da Violência sobre as Mulheres, entre muitas outras.

Em 2012 funda a Corações com Coroa, uma associação sem fins lucrativos à qual preside e que promove uma cultura de solidariedade e inclusão junto de pessoas em situações vulnerável.

Em 2005 foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem do Mérito pelo então Presidente da República Jorge Sampaio.

Não podendo estar presente na cerimónia Catarina Furtado enviou um vídeo com uma mensagem de agradecimento.

 

  • Diário de Odivelas - Redação

    Related Posts

    Junta da União da Freguesias da Pontinha e Famões repudia decisão de Governo de extinguir o CFPSA da Pontinha

    Em comunicado a Junta da União das Freguesias da Pontinha e Famões repudia a alegada intenção do Governo de extinguir, por fusão, o Centro de Formação do Sector Alimentar da…

    Viver em Odivelas vs. Lisboa – Ainda compensa mudar para os arredores?

    Comparação entre viver em Odivelas ou Lisboa: preços das casas, qualidade de vida, transportes e custos invisíveis. Saiba qual a melhor opção para si. Nos últimos anos, o mercado imobiliário…

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

    Publicidade

    Haiku 10

    Diário de Bordo | Crónica 7

    Diário de Bordo | Crónica 7

    Atuação de Paulo Sanches na Apresentação do livro “O Melhor de Mim”

    Atuação de Paulo Sanches na Apresentação do livro “O Melhor de Mim”

    Junta da União da Freguesias da Pontinha e Famões repudia decisão de Governo de extinguir o CFPSA da Pontinha

    Junta da União da Freguesias da Pontinha e Famões repudia decisão de Governo de extinguir o CFPSA da Pontinha

    Viver em Odivelas vs. Lisboa – Ainda compensa mudar para os arredores?

    Viver em Odivelas vs. Lisboa – Ainda compensa mudar para os arredores?

    Apresentação do livro de Joaquim Sustelo – Intervenções

    Apresentação do livro de Joaquim Sustelo – Intervenções