Sociedade & Ambiente |  O mundo do trabalho no século XXI

No início do século XXI, o mundo assistiu de perto a uma rápida transformação da sociedade e dos seus pilares fundamentais muito devido aos avanços da tecnologia e aos efeitos sociais e económicos de uma pandemia.

Na realidade, a imparável evolução tecnológica que nos tem acompanhado desde o século XX tem levado a que a presença física do trabalhador, cada vez mais seja substituída pela imagem digital (embora ainda não viável para todas as profissões), diminuindo isso os contactos materiais e, principalmente, os contactos humanos, algo que levanta questões sérias que não podem ser ignoradas, como a desumanização das relações pessoais.

Uma tendência de mudança que já vinha fazendo o seu caminho, que ganhou expressão após a pandemia do coronavírus – uma crise de saúde pública que rapidamente se alastrou à economia e ao mercado de trabalho -, e que transformou a forma como trabalhamos e consequentemente as diferentes relações laborais.

Na verdade, o mundo do trabalho mudou e jamais voltará a ser como antes. Como sempre aconteceu, a palavra-chave é “Adaptação”. Quem não se adaptar ficará para trás.

O mundo está mais conectado do que nunca. Os impactos – sociais, económicos e culturais – da interconectividade global na sociedade foram enormes.

Novas ferramentas como são as plataformas de videoconferência, as aplicações de compras online ou o modo de pagamento sem contacto, vieram para ficar e amplificaram o caminho ao trabalho remoto e à flexibilização de horários, algo amado por muitos (os trabalhadores), menos amado por outros (os empregadores).

Recorde-se que Portugal foi um dos primeiros países da Europa a enquadrar o regime de teletrabalho na legislação laboral, em 2003, muito antes da situação pandémica.

Atualmente os trabalhadores podem trabalhar de onde quiserem, com uma liberdade que nunca tiveram.

No mundo global em que vivemos é possível, no conforto do seu lar e recorrendo a um simples portátil ou telemóvel, agendar, comprar e vender seja o que for, sem contacto físico com os seus interlocutores, sem que tal diminua (antes pelo contrário dizem alguns estudos) a produtividade da empresa.

“(…) muitos profissionais terão percebido com a pandemia que podem trabalhar remotamente, até para empresas estrangeiras, sem sair de casa” (Cerejeira, professor da Escola de Economia da Universidade do Minho)

Para muitos, uma solução “win win”, que beneficia ambas as partes. Se, por um lado, a empresa consegue manter a sua produtividade, por outro, o trabalhador garante maior qualidade de vida, pois tem oportunidade de melhor conciliar o trabalho com a sua vida pessoal.

Tal como noutros tempos houve profissões a crescer e outras a desacelerar, a chamada “destruição criativa” (Schumpeter, 1942).

Assistimos a uma transição digital que passou rapidamente de revolucionária a estrutural e permanente.

A digitalização da vida coletiva poderá extinguir postos de trabalhos menos qualificados e poderá fazer crescer as desigualdades e a precariedade laboral, fatores sempre disruptivos na sociedade.

Nesse sentido e para que “ninguém fique para trás” caberá a governos e empresas não descurarem as competências de cidadãos e trabalhadores, ora garantindo-lhes igualdade de acesso, ora investindo na sua formação profissional.

Note-se como a digitalização tomou conta de setores anteriormente rígidos e pesados, como a administração pública, os serviços de saúde e de educação, por exemplo, ou como o “e-commerce” e o “delivery”, são hoje modalidades praticadas regularmente por restaurantes, supermercados, livrarias, lojas de roupa, etc.

Todo um novo mundo tecnológico que invadiu o mundo do trabalho e que, diga-se, foi bem assimilado por grande parte da sociedade.

Porém, a tecnologia, a crescente transformação digital e mais recentemente a Inteligência artificial (IA) – presentemente os grandes motores do crescimento económico -, exigem agora trabalhadores mais qualificados, mais criativos, mais adaptáveis e, deveras importante, sempre disponíveis para aprender.

Se existe transformação, existe inevitavelmente adaptação. Só com uma aprendizagem contínua (“lifelong learning”) ao longo da vida será possível acompanhar este alucinante ritmo da tecnologia.

Segundo o recente “Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025 “do Fórum Económico Mundial, “as habilidades que crescerão mais rapidamente até 2030 incluirão habilidades tecnológicas, juntamente com habilidades humanas, como habilidades cognitivas e colaboração”, acrescentando que “setores em transformação, como tecnologia, economia, demografia e a transição verde, deverão gerar 170 milhões de novos empregos até 2030, destituindo 92 milhões de outros”.

Contudo, é relevante não substituir por completo a interação humana pela digital. A empatia entre colegas e o sentido de pertença à organização, continuam a ser valores essenciais para um bom ambiente laboral.

Manifestamente o trabalho à distância tendencialmente despersonaliza e afeta as relações humanas. Cada um, cada vez mais, corre sozinho…

Em Portugal e de acordo com o INE, entre 2014 e 2024, o grupo de trabalhadores por conta própria em autoemprego aumentou em 95 mil pessoas no país, quase 24% numa década.

Em síntese, o avanço do conhecimento e da tecnologia têm levado sempre a grandes transformações societais.

Neste século XXI, fatores como a Robótica, a Internet das Coisas (IoT) ou a IA, vão voltar a redefinir o mundo do trabalho e o modo como trabalhamos, tal como já tinha ocorrido na década 80/90 do século XX, quando a introdução da tecnologia da informação e da comunicação (TIC), reforçou a globalização da economia e uniformizou hábitos culturais.

Num mercado de trabalho dinâmico, volátil e altamente competitivo e onde a inovação, a agilidade e a adaptabilidade são hoje mais valorizadas que a estabilidade cabe a cada um de nós, trabalhadores e empresas, estar sempre aberto ao conhecimento e recetivos à mudança.

Afinal a mudança é uma constante das nossas vidas e é através dela que temos alcançado o progresso social e o bem-estar.

O preço de resistir à mudança é alto, não só para o individuo, mas sobretudo para a Humanidade.

Confiemos então no processo.

Carlos Jesus. Licenciado em Sociologia. Mestre e Doutorando em Ecologia Humana

Email: carlos.jesus@campus.fcsh.unl.pt

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  • Diário de Odivelas - Redação

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