Diário de Bordo | Crónica 7

Termina hoje o relato de uma viagem à Arábia Saudita, realizada por António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.

Arábia Saudita dias 10 e 11

31 dezembro 2023

Dia inteiramente dedicado à gigante cidade de Jeddah. Hoje perdemo-nos pelo bairro antigo de Al-Balad, centro histórico da cidade, que de momento é um gigantesco estaleiro. Pelo que percebemos, o bairro neste momento é propriedade do governo e está a ser totalmente recuperado. Edifícios lindíssimos, com janelas e varandins de madeira trabalhada. Assim que chegámos, fomos interpelados por um professor de guias turísticos, que acompanhava um grupo de alunos em aulas práticas. Necessitavam de alguém para os alunos interagirem, e como é óbvio, colaborámos ativamente no exercício, que consistia em contar a história de um edifício. Mais à frente, um grupo de crianças oferecia comida tradicional saudita. Pelo nível de inglês seriam certamente alunas de uma escola internacional. Aos poucos, as lojas foram abrindo e o bairro ganhou vida, apenas interrompida pela oração do meio-dia. Os comerciantes aliciam-nos a entrar nos seus estabelecimentos, mas para quem viaja de mochila, as compras são muito limitadas.

Abrimos apenas três exceções que foram dois lenços palestinianos, um íman e limões negros, especiaria que nunca consegui encontrar em Portugal, e que dá um sabor fantástico a assados. Os lenços foram uma “novela mexicana”. Um simpático iemenita, bem tentou arranjar o artigo, mas sempre que ia a algum lado buscar, a coisa corria mal. Os lenços árabes têm padrões por povos, tribos, etc. O senhor trazia sempre um que apenas dois dos três padrões batiam certos. Mas ele insistia “same, same!” Depois de 4 ou 5 tentativas finalmente acerta no padrão palestiniano, só que…os lenços tinham mais defeitos do que coisas boas. Lamentavelmente não conseguimos fazer negócio. Já em fase de desistência desta compra, entramos numa última loja. Um simpático empregado atende-nos, que soubemos depois ser iemenita, e em 30 segundos temos lenços!

Mais rápido era impossível. Quando lhe dissemos que éramos de Portugal fez uma festa incrível e ainda tivemos um desconto na compra. Num dos edifícios que fotografamos, alguém nos pergunta se gostamos da casa. Claro que sim! Estava uma recuperação impecável. Quem nos questionou foi o engenheiro egípcio responsável pela obra. Assim que falámos de Portugal, neste caso foi a vez de surgir o Manuel José, que durante anos treinou uma equipa egípcia. Acabámos em abraços e fotos, e até um polícia se juntou à festa. A compra dos limões também não foi fácil. Dificuldades de comunicação terríveis, a máquina que não trabalhou para reduzir os limões em pó, mas finalmente lá conseguimos fazer a transação. Pelo caminho, as lojas de perfumes são as que mais nos convidam a entrar.

Os perfumes locais parecem mais um óleo, mas de uma eficácia brutal. Apenas uma gota no braço, e várias horas depois, o aroma mantém-se. Mas o espaço e peso das mochilas terminaram, pelo que fica para uma próxima. No meio de tudo isto, ainda fomos fotografados com um miúdo com uma camisola do Ronaldo, a pedido do pai.

Uber para o hotel, uma vez que foi a opção de hoje para deslocações na cidade e não é nada caro. Saída noturna para jantar na Midle Corniche, de onde se pode ver a fonte que jorra água a mais de 300 metros de altura. Celebrações de Novo Ano por aqui não existem. Amanhã último dia pelo reino.

1 de janeiro de 2024

Último dia, com pena nossa. Depois do check-out no hotel, o dia estava perfeito para explorarmos mais um pouco desta cidade, tendo a escolha recaído sobre toda a zona junto ao Mar Vermelho, também conhecida por Corniche. Local com muito pouco trânsito e de muito fácil estacionamento. Junto ao mar, muitos edifícios altos, uns já construídos outros em construção. Jeddah não é exceção, e tal como em todo o país, também aqui as obras sucedem-se. O país inteiro é um estaleiro gigantesco, com os olhos colocados em 2030, na sua SaudiVision2030, em que se esperam 30 milhões de visitantes por ano. Aconselhamos fortemente a quem pensa visitar este destino que o faça rapidamente. Voltando à Corniche, são muitos e muitos quilómetros de frente de mar, totalmente remodelada, com lindos jardins, miradouros, pontos de descanso, wc’s, parques infantis, restaurantes, cafés, food trucks e praias, infelizmente fechadas porque é “inverno”. Estariam entre 25 e 28 graus, o que por estas zonas é “fresco”. Muitos locais usam casacos e coletes, e até vimos um senhor de cachecol. O mar tem uma cor turquesa e uma transparência fenomenal, e um mergulho teria sido simplesmente delicioso.

Mesquitas vão surgindo pelo caminho, e um pouquinho mais para o interior, uma ciclovia toda colorida, faz as delícias dos instagramers. Hora de almoço e a escolha recaiu sobre o Red Sea Mall, até para refrescar um bocadinho, que o dia estava quente, pelo menos para nós.

Visita à ponta norte da Corniche, com visita à Mesquita Flutuante. É aqui também que existe o circuito de F1, mas que não foi possível de visitar, apesar das tentativas realizadas. Mesmo ao lado a fun zone do mundial de clubes que decorreu recentemente em Jeddah. A aposta em eventos desportivos é notória, na promoção do país como destino turístico. A zona escolhida para o pôr do sol, 22 quilómetros mais a sul, foi a do grande geiser, onde já tínhamos estado na noite anterior. E aconteceu o ponto estúpido da viagem. Os seguranças vieram implicar comigo por ter uma máquina fotográfica. Posso fotografar para o lado de terra, mas não é permitido fotografar para o lado do mar. Parto do princípio que será para não se fotografar o geiser, sendo que com telemóveis não há problema. Enfim… é tapar o sol com a peneira. Infelizmente acontece muito esta aversão a máquinas fotográficas e objetivas profissionais, quando atualmente todos temos uma máquina fotográfica no bolso. E os seguranças nunca mais me largaram até nos irmos embora. Um deles até me pediu para ir guardar a câmara no carro. Foi pena termos fechado com esta nota negativa e sem sentido.

Jantar, lavagem do carro e aeroporto. Nota para quem quiser alugar carro: a maioria das companhias de aluguer limitam os quilómetros no aluguer, e os quilómetros extra são cobrados. E 3.600 km depois, a nossa viagem terminou.

Em resumo, foi uma viagem interessantíssima, onde conhecemos um povo fabuloso, muito atencioso com quem os visita, cumprindo as tradições árabes de bem receber os viajantes. Em termos de segurança… creio que podíamos ter deixado o carro aberto e que nada aconteceria. Todas as partes históricas do país estão a ser recuperadas, e as estradas de montanha são imperdíveis de se fazer. Paisagens lindas, quer de deserto, quer de montanha. Preços bons de alojamento nesta época baixa e preços muito atrativos de alimentação, se se recorrer a restaurantes para locais, que têm comida deliciosa. Se não gostarem de frango, não vão à Arábia Saudita. Ainda muito ficou por visitar. 3.600 quilómetros deu para ver uma pequena parte do país, que é grandioso. Teremos de ter Arábia Saudita 2.0, num futuro próximo. A ver se conseguimos no próximo regresso, ver uma etapa do Dakar.

Este ano as datas foram alteradas e o rally não começou no dia 31 de dezembro, e sim uma semana mais tarde. Mais uma vez viajámos sem nada marcado, e isso dá-nos uma liberdade de movimentos enorme, com uma otimização muito grande de tempo, consoante os interesses que nos vão surgindo localmente. Caso ainda tenham alguma dúvida no destino, não hesitem e vão! Não se irão arrepender!

Terminamos assim o relato desta viagem à Arábia Saudita, deixando já em suspenso em futuras crónicas a Arábia Saudita 2.0, que já aconteceu! Mas a próxima crónica abandona por agora o médio oriente e vamos dar um salto ao continente africano.

@we.have.been.at  we.have.been.at@gmail.com

 

 

  • Diário de Odivelas - Redação

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