Diário de Bordo – São Tomé e Príncipe | Crónica 3

Acompanhem as crónicas da nossa viagem a São Tomé. António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.

Dia 4

25 de dezembro 2014

Dia de Natal. Outro dia de despertar cedinho, porque havia mais uma carga de presentes para colocar no Jimny.

O dia hoje começou pelo interior. Nas aldeias, paragens para distribuição de presentes. Permanência mais longa na Roça Monte Café a principal roça produtora de café de São Tomé, fundada em 1958. As crianças aqui foram muito ordeiras, e todos os que apareceram levaram presentes. Perto da Roça fomos à Cascata de São Nicolau e um pouco mais adiante ao Jardim Botânico do Bom Sucesso. Este jardim foi criado com a ajuda da Birdlife International Africa, com o intuito de conservar a flora endémica de São Tomé. A ajuda acabou e o jardim subsiste com muitas dificuldades notando-se a pouca manutenção. O Sr. Francisco fez questão de nos ir explicar as árvores e plantas do jardim. Pessoa de grande conhecimento, com explicações detalhadas das plantas e da sua utilização quer comercial quer medicinal. A casca de uma árvore quando cortada cheirava mesmo a amêndoas, uma outra a canela. Uma erva cheirava lindamente a coentros, não o sendo. Uma outra, a Mimosa Pudica, fecha-se quando lhe tocamos.

Assinado o livro de visitas, partida para Bombaim, uma roça de difícil acesso, com acesso apenas por picadas na selva. Seriam 2 horas para ir e voltar, numa máquina de lavar em que o Jimny se transformou. Mas a beleza do caminho, talvez o mais bonito da viagem, no meio de selva intensa, mereceu bem a pena. No percurso não perder a cascata de Bombaim. O único edifício em melhor estado de conservação era a casa do patrão da roça, agora transformado em Hotel Rural. A origem do nome de Bombaim deve-se ao facto de ter sido administrada por uma família indiana, que levou o mangostão para a ilha. Os restantes edifícios estavam completamente degradados e semidestruídos. Numa busca de spots fotográficos demos com uma família que dançava na rua, festejando o Natal. A hora de almoço estava perto e para nosso espanto, pessoas que nada tinham convidaram-nos para almoçar com eles, costeletas de porco e batatas fritas. Com pena nossa, porque teria sido um prazer partilhar esta refeição, não pudemos ficar, pois prometemos ao Wilson que o dia ia acabar cedinho, para ele se juntar à família. Acabámos por beber uma Rosema, cerveja local, e partilhar um momento curto e singelo, mas de uma beleza e importância enormes. Já nem tínhamos presentes para entregar às crianças e isso deixou-nos muito tristes. Os brinquedos que vimos nas crianças eram artesanais. Um deles juntou a um pau um velho rolo de tinta e o brinquedo lá estava. E lá seguia todo empertigado, ao comando do seu “veículo”, tal comandante de navio.

Acabámos por combinar com os pais que íamos deixar dinheiro aos filhos para eles comprarem um presente, quando fossem à cidade. Nunca saberemos se isso aconteceu. Regresso à cidade deserta por ser Natal, para libertar o Wilson, tal como prometido. Aproveitámos para passear na agradável marginal junto ao hotel. A certa altura três jovens vêm ter connosco para nos vender artesanato. Não comprámos e a Ana disse-lhes que estava era a apetecer-lhe um coco. Os miúdos arregalaram os olhos, desataram a correr em direção a um coqueiro, que treparam agilmente e trouxeram 3 cocos. A casca verde foi partida no alcatrão, a palha tirada com os dentes, a carapaça partida com uma pedra. A água de coco estava bem fresquinha e o coco estava delicioso. Desta vez mereceram o dinheiro. Acabámos por ficar ali na conversa, a fumar cigarros. Um tinha 16 anos e já não estudava. O outro com 18, andava no 7º ano à noite. Outro ainda queria acabar o 12º ano e ir para Lisboa estudar Direito.

Ao jantar comida africana como tem de ser. Calulu de peixe e molho de fogo. Molho de fogo esse, que seria acompanhado de fruta pão assada, mas… não havia. Existe por todo o lado, mas no restaurante deixaram acabar. Bem-vindos a África e a um ritmo muito próprio. É isso que nos faz voltar. “Leve Leve”.

Dia 5

26 de dezembro 2015

Hoje rumámos ao sul, com primeira paragem na Roça de Água Izé, uma das maiores de São Tomé, com uma frente de costa de 12 km e que no seu pico albergou 2500 trabalhadores. Aqui pode-se visitar o processo de secagem do cacau e experimentar o fruto. Paga-se 1 € por entrada. Como em todas as roças, as crianças rodeiam-nos e as mais afoitas metem conversa, na esperança de receberem ofertas. Hoje o dia era para material escolar, e a alegria de uma criança ao ver um lápis com borracha na ponta, é algo que não se esquece.

Uns km mais à frente, paragem no rio, onde as lavadeiras o tornam numa tela colorida do mais bonito que há. As suas roupas repletas de cores, espalhadas a secar pelas margens, tornam o rio num local cheio de cor e beleza incomparável.

Banho relaxante na praia Micondo, com água a temperaturas que por Portugal não se encontra.

Continuámos para sul e o encontro com a chuva, que por aqui é mesmo torrencial, criando uma cortina que pouco ou nada se vê o que nos fez voltar para trás, à procura de lugares sem tormenta.

Paragem na Cascata da Praia Pesqueira, onde rapidamente se organizou uma sessão fotográfica. Várias mulheres e adolescentes que lavavam no rio, pediram para lhes tirarmos fotos, sendo que uma adolescente tinha mesmo o desejo de ser modelo fotográfico. Até tinha jeitinho. Entre poses e risadas a ver o resultado no ecrã da câmara, passou-se uma hora deliciosa.

Infelizmente, esta comunidade, muito pobre, não tinha meio de receber as fotos. Ninguém tinha internet. Para despedida brindaram-nos com uma dança tradicional, mostrando um equilíbrio fenomenal, uma vez que muitas mulheres dançaram com o alguidar de roupa lavada em cima da cabeça. Ainda tentámos passar fotos para papel na cidade, mas não descobrimos nenhum local que o fizesse.

O almoço, delicioso quer na comida quer na vista, foi no restaurante Miongá, perto da Praia de Angulares. Omelete com folha de micocó, peixe galinha com matabala, tubérculo que substituiu a batata, atum vinagrado frito, terminando com um doce de papaia verde com compota de maracujá. O preço de 25 € para dois, por este repasto, e com a vista fabulosa, foi bem em conta.

No regresso, ainda tempo para parar na Praia das 7 ondas, linda e completamente deserta, e na Praia de Água Izé.

Terminados todos os presentes, fomos ao supermercado comprar bolachas, que todas as crianças adoram certamente, para assim termos mimos para os dias seguintes.

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  • Diário de Odivelas - Redação

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