
Acompanhem o relato da nossa viagem a dois países asiáticos, Nepal e Butão. Feita em abril de 2011, por António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.
Dia 5
O dia começou bem cedo, e ainda em Thimpu, fomos visitar a stupa, também chamada Memorial Chorten, um dos marcos religiosos mais emblemáticos do país. Foi construída em 1974, no estilo tibetano, em memória do terceiro rei do Butão, Jigme Dorji Wangchuck, falecido em 1972. Há lugar ao pagamento de uma taxa de visita, e dentro do edifício do templo não são permitidas fotografias.
Depois da visita, esperava-nos uma “longa viagem” até Punakha, de apenas 70 quilómetros, mas que com os milhares de curvas, numa verdadeira estrada de montanha, demoram 3 horas a percorrer. Na viagem, paragem obrigatória em Dochula Pass, a 3.100 metros de altitude. Aqui, 108 stupas foram construídas em memória aos soldados butaneses que pereceram em confrontos com insurgentes indianos em 2003. São conhecidas por Druk Wangyal Chortens. Muito perto, um templo erguido em 2008, o Druk Wangyal Lhakhang, celebra os 100 anos da monarquia do país. Murais representam eventos históricos. A vista desta zona é fabulosa, com panorâmicas lindíssimas dos picos nevados dos Himalaias, com destaque para Gangkhar Puensum, com 7.570 metros de altitude. O nevoeiro permitiu apenas pequenos vislumbres dessa beleza.
Um pouco mais adiante, nova paragem para um reconfortante chá, que apesar de ser Primavera, fazia frio. O café tem vista privilegiada para as montanhas, mas infelizmente o nevoeiro não permitiu desfrutarmos dessa beleza. Um simpático gato amarelo, não nos largou um segundo. O almoço foi num pequeno restaurante na aldeia de Sopsok, já perto de Punaka. Aproveitámos a tranquilidade do local para uma caminhada, entre lindíssimos arrozais, e fomos parar a um templo, Chimi Lhakhang, também conhecido por templo da fertilidade, construído em 1499. As casas nestas paragens são adornadas com símbolos fálicos, por influência do templo. Localmente também conhecem o templo como “No Dogs Temple”, devido à lenda de um demónio que se transformou em cão. Mas cães no templo, estavam por todo o lado. A lenda já não surte efeito.
Antes da visita a Punakha, check-in no hotel Zangto Pelri, localizado numa colina, com uma vista espetacular para o vale de Punakha e da cidade de Khurutang. Logo a seguir, partida para visitar a imponente fortaleza, o Punakha Dzong, uma das mais icónicas do Butão. Construída entre 1637 e 1638, é um exemplo notável da arquitetura tradicional butanesa. Até 1955 foi o centro administrativo e sede do governo. Alberga algumas relíquias sagradas, e em 1907 foi o palco da coroação do primeiro rei do país. Dizem que o arquiteto responsável pela construção da fortaleza, teve uma visão e não recorreu a nenhum desenho para orientar as obras. Paga-se para entrar, e no interior do templo não é permitido fotografar. Como na maior parte das fortalezas do país, todas têm uma parte civil e outra religiosa. É aqui que se encontra o registo civil, o tribunal, entre outros serviços públicos.
A Ana escapou por pouco ao “tributo” da tarde. Os monges que vivem no templo oferecem de manhã e à tarde água aos deuses, atirando um balde desse líquido pela janela do piso superior. Por sorte o monge viu-a a tempo. De outra forma tinha ficado abençoada para vários anos. Na cidade era hora de final de aulas. As ruas estavam vibrantes de crianças de várias idades, todas devidamente uniformizadas, em tons de azul, com o traje tradicional do país, transportando sem exceção, mochila e lancheira para as refeições. Pequenas barraquinhas faziam as delícias dos que tinham dinheiro para comprar alguns doces. As máquinas fotográficas fizeram sucesso entre os jovens, que nos abordavam muito para tirarmos fotos. Lojas, muito poucas e apenas para os locais. De regresso ao hotel, notámos que as montanhas estavam pontilhadas de pequenos pontos azuis. Eram os estudantes, de regresso às suas casas, em estreitos carreiros de terra, porque transporte escolar não existe. Muitos deles fazem bastantes quilómetros por dia, para irem à escola, e de inverno, por estas paragens não deve ser situação muito fácil.
No hotel, descoberta de uma peça de museu. Um cinzeiro na lateral da entrada! Jantar no hotel, sem picante, e a noite foi passada a falar com os vários guias que ali estavam. O tema principal foi a questão do tabaco. Era raro o guia que não estava na rua a fumar, o que para eles é totalmente ilegal. Desde 2005 a venda do tabaco foi proibida e desde este ano, 2011, o butanês que for apanhado a fumar em público pode incorrer numa pena de prisão até 3 anos. No momento, havia já bastantes pessoas encarceradas devido a isso. Para se poder ter cigarros, as pessoas têm de ter uma autorização especial da Alfândega e pagar impostos altíssimos na fronteira. Os salários auferidos não permitem isso. O salário médio são 8.000 rupias, mais ou menos 200 USD. Apesar de ter moeda própria, usa-se muito a Rupia indiana, que tem paridade.
Um dos nossos guias, formado em informática, curso que tirou na Índia, dedica-se como freelancer a esta atividade turística, para ter mais um rendimento. Com 24 anos, pensa sair do Butão. As pessoas mais jovens estão contra a lei do tabaco, a questão do uso do traje nacional, entre muitas outras coisas. Só para se ter uma ideia, a televisão chegou ao país apenas em 1999. E do que vimos, passa apenas programas culturais de tradições do país e notícias, mas estranhamente em inglês.
Voltando ao tabaco e com todos a fumar à porta do hotel, questionámos porque, sendo proibido, todos eles fumavam na rua e como tinham tabaco. O tabaco é indiano e de contrabando. Licença ninguém tinha. Mas a polícia ao hotel não ia. Mesmo assim ainda vislumbrámos um dos guias a fumar muito escondido atrás de uma carrinha.
Meia hora de net paga na receção, único local onde está disponível. A Ana como é honesta disse que utilizámos 2 computadores e lá pagámos 2 meias horas. Pedido de despertar para as 07H30.
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