
Acompanhem as crónicas da nossa viagem a São Tomé. António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.
SÃO TOMÉ – DIA 3
24 dezembro 2014
Véspera de Natal. Despertar às 07h00 porque o dia vai ser longo.
Depois de carregarmos o Suzuki Jimny, com os presentes, saímos em direção a norte, via estrada do aeroporto.
Primeira paragem na Roça Agostinho Neto, antiga Rio D’Ouro, que já foi a maior e mais importante das explorações de cacau e café. Foi fundada em 1865, chegando a albergar mais de 3.000 pessoas. Demarca-se na paisagem o imponente hospital, que nos seus tempos de funcionamento, contava com 182 camas. Infelizmente, atualmente é um local degradado. Mas hoje, algumas dezenas de crianças tiveram um dia diferente. Os presentes choveram, e a alegria da miudagem foi indescritível.
Num pequeno terreno surge um improvisado campo de futebol, de terra batida, onde alguns miúdos disputavam renhidamente uma partida, com uma bola feita de fita-cola, plásticos e cordas. Saí do Suzuki uma bola de “cautchu” e a loucura foi total.
Lamentavelmente passámos por um funeral de um jovem de 17 anos, que foi mordido pela cobra preta, possuidora de um veneno potente. Dizem os locais que a cobra só pica a pessoas a quem tenha sido lançado mau olhado por feitiçaria. As crenças e os mitos continuam bem vivos em África.
Recentemente, esta cobra foi renomeada de Naja Malanoleuca, para Naja Pereoescobari, por ter sido confirmado ser uma espécie endémica em São Tomé, e não uma espécie introduzida pelos portugueses, aquando da descoberta da ilha. O novo nome foi inspirado no navegador português Pedro Escobar. Sendo espécie endémica, passou a estar protegida, embora os locais continuem a sua caça, quer pela sua perigosidade, quer para iguaria gastronómica local ou pela sua banha, que os locais guardam para tratar maleitas, como feridas ou dores reumáticas. Até temos no nosso vocabulário a expressão “banha da cobra”, hoje com outro sentido menos terapêutico.
Paragem na Lagoa Azul, uma pequena e lindíssima baía, para um refrescante banho, que, sendo cedo, o calor já apertava. O azul da água e a sua transparência é fenomenal.
Em pequenas localidades e sempre que surgiam crianças, havia paragem para entrega de ofertas. Apenas um lápis, deixa uma criança com um sorriso maravilhoso. A estrada acaba em Santa Catarina, terra de pescadores.
Para explorar spots fotográficos em altitude, apontámos o Jimny à serra, e atacámos a picada. Logo no início, uma cobra de 2 metros atravessava vagarosamente a estrada. Felizmente não era a preta. Saímos do carro para apressá-la a entrar na floresta, e lá continuámos a nossa subida, num trilho que cada vez mais estava engolido pela vegetação. Muito a custo, o Jimny ia galgando metros. Houve ainda mais paragens para desviar pedras e troncos que se atravessavam no caminho. Até que a selva tomou conta da estrada e já não havia passagem possível.
Regresso à cidade, com muitas interrupções para fotografia, e paragem obrigatória em Neves, para petiscar a santola, que são apenas caranguejos gigantes. Estavam deliciosos, picantes, e o molho no seu interior estava fantástico. Contudo, um dos viajantes apenas comeu banana frita, também ela deliciosa, porque pegar no animal e descascá-lo está fora de questão. Adivinhem quem foi.
Como em muitos países africanos, também aqui os bebés são transportados às costas das mães, e não é que se portam bem? Mesmo com as mães a trabalhar, o bebé continua com essa essa ligação próxima, que pelos vistos resulta em bom comportamento.
Nas praias ao final da tarde, repousam as pirogas dos pescadores, quase todas elas feitas de um tronco único, escavado até ter forma de barco.
Na estrada vamo-nos cruzando com homens a caminho de casa, regressando do trabalho. Carregam sacos em “bicicletas” feitas de pedaços de madeira, mostrando bem o que é o “engenho” africano, na resolução de problemas.
A previsão era jantarmos em casa da Dona Téte, um misto de casa particular e restaurante, mas estava fechado. Amanhã, dia de Natal, continuamos com a distribuição de presentes.
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Adoro os vossos passeios e as vossas descrições. Levam-me ª viajar com vocês. As fotografias são maravilhosas. Só têm um defeito…. São poucas. Obrigada pela partilha