Diário de Bordo – São Tomé e Príncipe | Crónica 4

Acompanhem as crónicas da nossa viagem a São Tomé. António Cruz e Ana Fialho, dois apaixonados por conhecer o Mundo e os seus recantos ainda pouco visitados. António, economista e Ana, professora, aproveitam todos as suas férias nesta exploração. Culturas diferentes, interação com os locais, gastronomia e fotografia são as suas preferências nestas descobertas.

Dia 6

27 de dezembro 2014

Hoje rumamos de novo ao sul, uma vez que a viagem de ontem foi interrompida pela chuva torrencial e pelas estradas alagadas.

Ao longe, começamos a ver o Pico do Cão Grande, uma elevação vulcânica de forma aguda, e com uma altura de 300m em relação ao solo. Na zona, grandes palmeirais de produção de óleo de palma, vão ocupando o lugar da selva.

No final da estrada do Sul, a EN2, a praia Inhame que tem um Eco Lodge fantástico, e a praia é daquelas que costumamos ver nos catálogos. Areia fina, com vegetação e coqueiros quase até à água. Merece a pena a visita e o banho nas suas águas tépidas. Em frente está o Ilhéu das Rolas. Optámos por não visitar. Só se podia ir via agência, com um custo de 55 € por pessoa, e achámos que não se justificava. A Praia Piscina, que deve o nome a uma piscina natural formada na placa rochosa, e a Praia Jalé, são visitas a não perder. A praia Jalé é um dos principais locais de desova de tartarugas. Ambas são lindíssimas e na altura estavam completamente desertas e sem nenhum restaurante a funcionar. Paragem de novo no restaurante Miongá, onde nos deliciámos com um caril de peixe fumo, que estava de outro mundo. O regresso até à cidade foi recheado de paragens e interações com as crianças, distribuindo bolachas. Foi uma tarde bem passada, uns toques de bola, umas conversas interessantes a saber o que estes miúdos esperam do futuro. Infelizmente esperam muito pouco…

 

Dia 7

28 de dezembro 2014

Hoje o programa é dedicado ao norte e a banhos, que o dia está quente. Primeira paragem para mergulhos em Praia das Conchas. Mais à frente, paragem em Morro Peixe, aldeia de pescadores. As pirogas estava a chegar, carregadas de espadartes, que são depois transportados da praia até ao mercado, no dorso de motorizadas. É aqui também que se encontra o Museu do Mar e o Centro Nacional de Conservação de tartarugas marinhas. Não havia tartarugas bebés, uma vez que tinham sido libertadas na véspera. Continuámos pelas praias de Tamarindos e Governador. Tivemos a sorte de ver na Praia de Micoló tartarugas recém-nascidas, numa incubadora.

Nesta costa veem-se muitos navios de pesca encalhados. São maioritariamente do Gabão, cujas tripulações encalham propositadamente, por falta de pagamento de salários.

O almoço aconteceu inesperadamente na praia Micoló, num restaurante improvisado e com o produto da pesca do dia acabado de chegar. Rapidamente a mulher do pescador coloca uma mesa e duas cadeiras que trouxe de casa, e mesmo ali na rua, a refeição acontece. Uma grelhada de peixe bica, barriga de andala, choco, espetada de búzio, tudo acompanhado pela sempre presente fruta pão assada. Um molho de óleo com malagueta esmagada, foi o tempero perfeito, para uma grelhada que estava de comer e chorar por mais. Tudo isto por 300.000 dobras, sensivelmente 12 €. Regresso à cidade. No jardim do hotel, uma sessão de fotos para noivos acontecia. Na realidade é o único jardim cuidado que se consegue encontrar. O resto da tarde foi passada a ouvir reggae e rap africano, com 4 miúdos que costumam andar perto do hotel a vender artesanato e não só… São uns putos porreiros, mas a falta de oportunidades que existem no país, leva estes miúdos por caminhos pouco recomendáveis.

Dia 8

29 de dezembro 2014

Hoje o dia é para visitar as roças do centro da ilha. Começámos pela Roça Monte Café, em segunda visita, onde se pode visitar o Museu do Café, que nos oferece uma viagem pela história do cultivo do café, desde a plantação, colheita e secagem.

As máquinas fotográficas com visor continuam a deliciar as crianças, que pedem fotos para depois se verem no visor.  Paragem em Trindade, onde almoçamos. Zona onde tristes acontecimentos começaram, a 3 de fevereiro de 1953. Ficou conhecido pelo Massacre de Batepá ou Guerra da Trindade. O então Governador, Carlos Gorgulho, pretendeu forçar a população nativa da ilha a trabalhar como serviçais nas roças, sendo o trabalho muito mal pago ou mesmo não pago. Isso deu origem a uma revolta popular, com consequências dramáticas para os nativos da ilha. Dia 3 de fevereiro continua a ser feriado no país. A tarde foi dedicada à cidade de São Tomé. Procurámos por panos africanos, e algum artesanato, que acabámos por adquirir aos miúdos do reggae. Passámos pelo espaço Cacau, um dos locais mais culturais do país. A funcionar numa antiga oficina de manutenção de comboios, é uma referência no panorama cultural, acolhendo a Bienal de São Tomé e Príncipe, e residências artísticas. Tem uma programação de exposições, concertos debates, etc, e é ponto de encontro para uma bebida ou um petisco. Tem um museu que se pode visitar, e onde se pode deixar um donativo, sendo este aplicado na confeção de almoço para as crianças que vão à escola na cidade e são de longe. Chegam a caminhar diariamente mais de 3 horas. Relativamente aos comboios, atualmente já não há qualquer vestígio, mas que nos anos 20 do século passado ocupavam 600 km de linhas de caminho de ferro, que se espalhavam e estendiam por toda a ilha, servindo para escoar a produção agrícola das roças, até aos portos de mar. Jantar de comida tradicional nos Sabores da Ilha, no Parque Popular.

@we.have.been.at  we.have.been.at@gmail.com

 

 

 

  • Diário de Odivelas - Redação

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