Ó Gente da Minha Terra, que gostais de animais, e de me ler, estou muito triste.
O meu coração pinga de dor e de saudade, como um doseador de soro em corpo doente.
Foi assim que vimos partir a “Nobreza”, há momentos, por não ter conseguido vencer a falência dos rins.
Vou chorar um bocado, voltando mais tarde, para vos falar dela.
Desculpem-me. Já estou de novo convosco.
A Nobreza é uma gata de pelo branco, manchada de tons suaves de castanho, com lindos olhos azuis, que a filha mais nova resgatou de um “gatário”, em Castelo Branco.
Foi um cruzar de olhares que as aproximou.
Havia sido vítima da experiência de alguém sem formação médico veterinária, na tentativa de a esterilizar, e estava em mau estado.
Teve de ser levada a um veterinário a sério, que a ajudou.
Em casa, nas longas horas de estudo e execução de trabalhos escolares, para a licenciatura da filha mais nova, a Nobreza esteve sempre presente.
Por isso, se dizia que ela também tinha uma licenciatura.
Depois do curso, seguiu-se Erasmos em Londres, e a filha mais nova fixou-se lá, ficando a Nobreza ao nosso cuidado.
E assim se passaram dez anos, durante os quais se criaram rotinas e formas de comunicação, tal e qual uma neta.
Mas, sempre que a filha voltava a casa, reativavam-se as memórias entre elas, como se não tivesse havido ausência.
E agora?
Agora, estamos sempre à espera de a ver chegar, meio trôpega, de um qualquer recanto onde tenha estado a dormitar, sabendo, no entanto, que estará em…….
O Céu dos Gatos
Vejo ervas, vejo flores,
Muitos raios de mil cores,
Que não sabia que havia;
Lá no sítio de onde vim,
Eu não via nada assim,
E já nem lembro o que via.
Mas lembro de quem deixei,
E que muito os amei,
Sem saber que os sentia;
Eram como pai e mãe,
E filha deles me tornei,
Que sem falarem ouvia.
O cheiro deste ambiente,
Muito fora de ser gente,
Acalma e faz levitar;
Mas sinto falta daquele,
Que os pais tinham na pele,
Depois do meu afagar.
Sinto falta dos beijinhos,
Que a mãe dava, nos carinhos,
Constantes, a qualquer hora;
Aqui, vejo que há amor,
Mas não tem a mesma cor,
Que eu queria ver, agora.
Por enquanto, fico cá,
Miando, pra ver se há,
Quem me venha afagar;
Ou enrosco-me a dormir,
Deixando o tempo fluir,
Até que possa voltar.