Agora que passaram as festas e que virámos o ano podemos e devemos refletir sobre o mundo em que vivemos e sobre o modo como a passagem de ano é sentida e vivida nas diferentes partes do globo.
Enquanto uns (muitos) festejam exuberantemente a última noite do ano, outras regiões há por esse mundo fora onde, e à mesma hora, pessoas como nós sofrem os horrores infligidos por guerras e conflitos.
Na realidade, desde a 2ª guerra mundial que não estavam ativas tantas guerras como em 2024.
“Não o esqueçamos, a guerra é sempre uma derrota, sempre! Rezemos pela paz, hoje precisamos de paz” (Papa Francisco, 1 de janeiro 2025, Dia Mundial da Paz).
Certo é que todos os anos, à meia noite de 31 dezembro, em países onde reina a paz e a abundância, abrem-se em simultâneo as garrafas de champanhe, comem-se as doze passas, as pessoas abraçam-se e beijam-se, o céu é iluminado com as luzes de coloridos fogos-de-artifício e traçam-se e renovam-se desejos e planos para o novo ano.
Sabias que durante a Idade Média a passagem de ano chegou a celebrar-se no dia 25 de março? E que na China, por exemplo, o dia é celebrado entre 21 de janeiro e 21 de fevereiro?
Com a adoção do calendário gregoriano, promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de fevereiro do ano 1582 – países há que adotam os calendários lunar e solar – o dia 1 de janeiro passou a ser o primeiro dia do ano corrigindo assim um erro detetado no calendário juliano, este baseado num ano com duração de 365,25 dias o que vinha ficando desalinhado com a órbita da Terra.
Recorde-se que o ano médio no calendário gregoriano é de 365,24250 dias, aproximadamente o tempo que a Terra demora a dar uma volta em torno do Sol, o “movimento de translação”, movimento este que combinado com a inclinação do seu eixo dá origem às estações do ano que bem conhecemos.
Com efeito, a noite de 31 dezembro para 1 de janeiro é uma data carregada de simbolismo nas várias geografias.
Um construto social, cultural e religioso, que nos acompanha há muitos e muitos anos e que no seio das economias mais avançadas assume proporções e estados de alma indescritíveis, desde usos e costumes regionais que perduram até à realização de expensas viagens a terras longínquas para ali passar aquela noite.
Uma noite onde sobressai o lançamento do fogo de artifício, uma tradição, que, segundo alguns historiadores terá começado na Ásia há mais de 2 mil anos, para uns, com o objetivo de “afugentar espíritos maus”, para outros, como forma de “purificar o ar e a vida, protegendo o novo ano contra todas as influências negativas que pudessem existir”.
Na verdade, o ser humano sempre encontrou modos de divinizar as coisas e atribuir-lhes significados. Encerrar um ano e começar outro passa por fechar um ciclo e abrir um novo, uma necessidade humana que nos revigora a alma e nos fortalece o ânimo e a vontade de continuar.
Já a tradição do champanhe na Passagem do Ano, bebida historicamente associada ao luxo, ao glamour e às festas da realeza e da aristocracia surgiu na Europa, no seio da alta sociedade, quando o vinho de alta qualidade era utilizado para celebrar momentos especiais e visto como símbolo de status e prestígio ( Norbert Elias, em “A Sociedade de corte”).
O ritual das passas, segundo parece, vem do tempo da aristocracia parisiense que à época celebrava o “réveillon” (cujo significado é “despertar, acordar”) a comer uvas frescas, costume que chegou a Espanha e a Portugal, através das passas de uvas.
Ora, neste mundo global tão desigual e incerto em que vivemos, onde abundam tensões e conflitos com custos humanos irreparáveis, é um privilégio, que nem nos damos conta, podermos festejar a passagem de ano junto dos nossos, com “paz, amor e prosperidade”, valores que desejamos preservar e transmitir às gerações vindouras.
Para todos nós que seja um bom ano.
Para todos aqueles que na Europa e no mundo, lutam e procuram recuperar a liberdade, a segurança e a qualidade de vida que lhes foi retirada, valores essenciais para a dignidade e bem-estar do ser humano, ficam os nossos votos de esperança em dias melhores.
Estamos crentes que o bem sempre vencerá.
“Somos feitos da matéria dos sonhos.” (Shakespeare)
Licenciado em Sociologia. Mestre em Ecologia Humana
Email: carlos.jesus@campus.fcsh.unl.pt
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