“As economias devem ser organizadas para promover e manter o bem-estar humano, e não para tornar as pessoas mais ricas”

(Will Steffen,2020)

O aumento das populações, hoje  muito materialistas no Ocidente, e a forte urbanização, com seus padrões de consumo e com as suas dinâmicas sociais, têm levado a economia, a fim de satisfazer as suas necessidades, a extrair / exaurir um maior nível de recursos naturais, muitos deles não renováveis, algo que, de acordo com os cientistas, tem sido uma das grandes causas das mudanças climáticas, da degradação de ecossistemas e da perda de biodiversidade.

“A economia que mata, que exclui, que polui, não é economia”

(Papa Francisco,2022)

A tensão entre desenvolvimento e proteção da natureza será sempre um exercício complexo.

Temos em Portugal vários focos de conflitos ambientais de Norte a Sul do país – estradas que atravessarão áreas protegidas, barragens que podem fazer desaparecer aldeias, campos de agricultura intensiva que transformam por completo a paisagem, as consequências da exploração mineira do lítio na morfologia do terreno e na qualidade da água, etc. – onde os interesses económicos colidem com o bom viver das populações, com a fauna e com o espaço de muitas espécies, pelo que, encontrar o equilíbrio será sempre o maior desafio que temos pela frente.

Essencial é restaurar a ligação dos humanos à Natureza, sublinha Will Steffen, o conceituado cientista da Casa Comum da Humanidade (CCH), organização que procura o reconhecimento do Sistema Terrestre como património natural intangível da Humanidade, para restaurar um clima estável, criar um modelo de governança para os recursos naturais comuns do planeta e promover um novo Pacto Global para o Ambiente junto da ONU.

Na realidade, estamos a ser vencidos pela velocidade da tecnologia e intensidade dos problemas ambientais causados pelo Homem. Segundo o IPCC, a influência humana no clima é “inequívoca” e o aumento de temperatura pode superar 1,5 ºC em 2040, com graves efeitos, muitos já irreversíveis.

“Hoje os problemas ambientais são problemas de fome, de poluição, de conflito… São problemas profundos de desigualdade”

(Professora Helena Freitas)

Logo, urge mudar a forma como vemos o nosso lugar na Natureza, porque nós fazemos parte do planeta vivo.

Se, por um lado, a atual Economia (do crescimento) e o fetichismo do dinheiro almejam o progresso e a prosperidade, criando/impondo continuamente novas e (desnecessárias) necessidades, por outro lado, o Ambiente abriga os recursos naturais essenciais para o nosso bem-estar e das próximas gerações e para a sobrevivência do planeta.

É, por isso, importante que a economia no seu processo cause menor impacto no planeta. Isso far-se-á com decisões economicamente eficientes e ambientalmente conscientes.

De acordo com os especialistas os nossos modos de viver e de comer têm desestabilizado o sistema climático e a integridade da biosfera, tanto em terra como no mar.

São muitos os sinais e alertas que temos ignorado pois negligentemente continuamos a lançar no sistema terrestre e na atmosfera produtos químicos, materiais radioativos e plásticos, ações altamente prejudiciais para a vida na Terra e para a vida humana, dado que danificam a camada de ozono à volta da Terra, provocam a poluição, o aquecimento global e a acidificação dos oceanos, suscitando isto graves consequências para os ecossistemas marinhos e para os recursos por estes gerados.

Desde 1972 que o relatório “Os limites do crescimento”, nos alerta para o facto do crescimento económico não poder continuar indefinidamente.

Há, pois, que saber conciliar estes dois desideratos – Economia e Ambiente – tendo em vista um desenvolvimento e progresso sustentáveis.

Presentemente a supremacia do digital sobre o material é abismal, não estejamos nós em plena Quarta Revolução Industrial, pelo que, precisamos de alterar a forma como operamos a economia e como trabalhamos.

Por exemplo, a opção por uma economia circular, que ao invés da economia linear

(Extrair, produzir e descartar) se baseia na partilha, reutilização, reparação e reciclagem de recursos, ou por uma economia de baixo carbono, podem ser um bom caminho para enfrentar a crise climática e garantir um futuro sustentável.

Como de igual modo, no setor agrícola e numa altura em que há cada vez mais gente a comer e menos a produzir, há que, causando o mínimo  impactos no ambiente, tirar o máximo rendimento da inovação e das novas tecnologias – drones, softwares, sensores no solo para determinar a humidade presente nos terrenos, armadilhas de insetos para efeito de luta biológica e GPS nos tratores, etc. – para produzir mais e melhor alimento, reduzir o desperdício e otimizar o uso da água (o exemplo do regadio) e dos solos.

 

Ao nível empresarial práticas mais amigas do ambiente são necessárias, ou seja, no processo de fabrico de um produto usar menos recursos e menos energia, algo que se traduz na chamada desmaterialização da economia. Temos o bom exemplo do teletrabalho, modalidade que foi incentivada nas empresas após a pandemia da Covid-19, e que veio reduzir as deslocações de maior distância e a sua pegada ecológica, sem que isso resultasse em perda de produtividade.

Já da nossa parte é vital mudar os estilos de vida e sobretudo reduzir o (hiper)consumo, isto é, saber viver com menos. Optar por um consumo sustentável, consciente e responsável deverá ser o caminho. Tal significará comprar/consumir o necessário e aumentar a vida útil dos produtos, tanto quanto possível.

Ora, numa época em que os valores pós-materialistas (Inglehart, 1977) começam a ganhar espaço no cotidiano – desde preocupações sociais e individuais com a qualidade de vida, com a realização no trabalho e com a vida comunitária, até aos comportamentos de consumo, como, por exemplo, comprar local e da época, identificar a origem dos alimentos, preocupar-se com o bem-estar animal e com a natureza -, sobrepondo-se aos valores materialistas, estes mais ligados à subsistência e à segurança, é de esperar a mudança de postura e atitude da sociedade e das suas relações com o planeta.

Importa desacelerar o impacto humano na natureza. Nem a economia nem a vida humana existem sem recursos naturais. É nosso dever preservá-los.

O desenvolvimento e o progresso humano não são unicamente alcançáveis através da economia e do crescimento. Dimensões como as desigualdades e a pobreza, que persistem na sociedade, assim como as externalidades negativas criadas pela economia – a perturbação social, a degradação ambiental, a perda de biodiversidade e a crise climática -, estão a obstaculizar o acesso de muitas populações a vidas dignas e seguras.

“As pessoas têm fome não porque a produção de alimentos seja insuficiente, mas porque são demasiado pobres para comprarem os alimentos que estão disponíveis, mesmo nos países ricos. A principal causa da fome é a pobreza

(Plataforma Transgénicos Fora,2024)

Conforme defende Serge Latouche (2011) precisamos de decrescer serenamente e de modo sustentável “o decrescimento é uma utopia concreta: não podemos continuar a perseguir infinitamente o crescimento, a economia e o progresso económico, quando o nosso planeta se encontra em declínio”.

Poucas são as dúvidas que as mudanças climáticas vão condicionar a forma como vamos evoluir, em termos societários e económicos. Urge alinhar o sistema económico com a sustentabilidade, por forma a todos, hoje e amanhã, poderem usufruir duma vida saudável e dum planeta habitável. Se nada for feito, o colapso climático é mais que provável.

“Se a terra tiver de perder a maior parte de sua beleza pelos danos provocados por um crescimento ilimitado da riqueza e da população (…) então, pelo bem da posteridade, desejo sinceramente que nos contentemos em ficar onde estamos nas condições atuais, antes que sejamos obrigados a fazê-lo por necessidade”

(John Stuart Mill)

Carlos Jesus. Licenciado em Sociologia. Mestre em Ecologia Humana

Email: carlos.jesus@campus.fcsh.unl.pt

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